Depois de vinte anos no mundo corporativo, Paula Panachão volta ao ponto de origem: as mãos na matéria, o gesto paciente. Sua redescoberta da cerâmica é uma reconexão com o fazer manual — uma resposta a um tempo que, cada vez mais, distancia o corpo do objeto.
Em uma conversa recente, Paula compartilhou seu processo criativo e a técnica que norteia suas joias: a paper clay, uma mistura de argila com fibras de papel que confere às peças uma leveza incomum. A delicadeza, aqui, não é apenas física, mas simbólica — uma delicadeza da atenção, da escuta da matéria e do tempo.
"Construir uma marca é como construir uma vida", reflete Paula. É nesse ritmo, orgânico e contínuo, que ela projeta lançar entre quatro e seis coleções por ano, sempre em edições limitadas, permitindo que cada peça carregue a singularidade de um gesto não replicável.
As coleções de Paula têm nomes que falam de transformações: Seed, evocando o princípio de toda criação; MABE, uma homenagem ao artista Manabu Mabe; e Duna, inspirada nas texturas efêmeras da areia moldada pelo vento. Cada peça é modelada manualmente, colorida com pigmentos minerais e finalizada com ouro líquido 18k, após sucessivas queimas. O processo é lento — e propositalmente assim.
Inspirada pelo universo cromático dos filmes de Wes Anderson — seus amarelos envelhecidos, dourados queimados e laranjas suaves —, Paula também fala da necessidade de resgatar uma "temperatura" emocional nos objetos: uma memória de toque, de calor, de presença.
As peças da marca podem ser encontradas na galeria de design Herança Cultural.
Texto de Uiara Andrade